Quase todo menino brasileiro sonha em se tornar um jogador de futebol ou futsal. Eu me chamo Rafael e faço parte desta maioria. Desde pequeno, sonho em me tornar o melhor do mundo, mas ainda havia um ensino médio para terminar e assim poder tentar a sorte na quadra ou no campo.
Me mudei para a capital e logo pensei nas possibilidades que uma metrópole traria para realização do meu maior sonho.
Naquela manhã estava super empolgado para ir à escola e me preparei com animação.
Antes de sair, me despedi dos meus tios com quem estava morando, pois, meus pais ainda não estavam totalmente transferidos e eu havia me adiantado para me acostumar com meu colégio novo.
Corri até o ponto de ônibus, eu sempre gostava de chegar cedo – embora nunca fosse meu ponto forte — e ainda mais nesta situação, passaram —- e 15 minutos e eu estava na entrada da Escola União, uma das melhores do bairro vizinho, eu sentia que ali poderiam acontecer coisas inesquecíveis, tive que deixar velhos amigos em minha cidade, foi triste não poder coloca-los na mala, esperava fazer novos amigos.
Eu entrei na escola atravessando portões tão altos que me senti em um castelo, havia um brasão que ficava exposto em cima desse portão, todos os alunos estavam uniformizados e o clima era razoavelmente agradável.
A recepção foi feita por professores que dançavam e cumprimentavam os alunos, aquela energia era bacana. A entrada consistia em um corredor que dava acesso ao maior pátio da escola, que era um dos quatro pátios daquele prédio.
Busquei informação sobre minha sala, mas nada adiantava, teria que procurar sala por sala naquela escola grande, pois, cada série tinha no mínimo duas turmas.
Depois de alguns minutos andando pelos corredores, enfim a sala foi encontrada. Obviamente eu conseguir com ajuda do Felipe. Ele aparentava ser um cara legal.
Entrei e olhei para as carteiras, mas elas já estavam preenchidas do meio para trás, me restando agora as duas linhas da frente. Sentei na segunda linha de mesas e algo diferia da minha antiga escola, aquela mesa não era apenas para mim e sim para ser dividida em dupla.
Esperei alguém sentar ao meu lado, mas todos pareciam ter suas duplas pré-definidas e me ignoravam, só não era ignorado pelos cochichos dos alunos sobre mim, ninguém tinha coragem de falar comigo e preferiam manter distância.
Sentia uma pequena raiva pela tamanha empolgação que tive para no fim estar sozinho. Peguei minha mochila e logo comecei a colocar meu material na mesa. Deixei tudo preparado e tudo que fiz em seguida foi usar meu fone de ouvido para escutar música.
Eu ainda sentia angustiado pela solidão, mas esse sentimento foi lançado fora quando uma menina parou na minha frente. Ela tinha um cabelo curto, em relação às meninas que conheci, os olhos eram cor de mel e parecia meio tímida pela sua postura.
— Por acaso… há alguém… sentado ao seu lado? — Perguntava quase gaguejando
Isso me deixou um pouco aliviado e feliz de certa forma, afinal, parecia não ser o único intimidado naquele lugar.
Era aliviante ter alguém com um ponto em comum.
— Não, pode sentar. — Falei afastando um livro que estaria no espaço daquela menina — Pronto, seu lugar está apropriado agora. — Sorri para ela.
— Muito obrigada. — Ela disse e se sentou.
Aquela menina era realmente tímida, certamente ela também era uma novata naquela escola que, tirando os professores, não havia ninguém receptivo. Então depois de alguns minutos lendo meu livro, a diretora entra na sala e toda conversa existente encerrou.
— Bom dia a todos vocês, para quem não me conhece vou me apresentar. — Falou alegremente aquela mulher — Sou Shirley, a diretora desta escola e como alguns já sabem, sou uma pessoa muito legal, mas também sou bastante rígida. Este ano vocês estão no segundo ano do Ensino Médio e os assuntos serão um pouco mais complicados, peço a todos que sejam excepcionais estudantes para que passem de forma menos turbulenta. Então, sejam bem-vindos ao segundo ano do ensino médio da Escola União. — Ela falou e alguns aplaudiram, outros apenas olharam com desgosto. Ah! Também tinha a menina ao meu lado que simplesmente olhou para trás e ficou pensativa.
A diretora foi substituída pelo professor de história, ele chamava-se Antônio e era professor recém-contratado, parecia que até mesmo algum professor iria “sofrer” comigo nesta jornada para descobrir mais sobre a escola.
Após se apresentar, ele pediu para que os alunos fizessem o mesmo, teriam que falar seu nome, o que gostavam, o que não gostavam e como havia sido às férias. Começou pelo “fundão” que conversava muito, o professor entendeu que aqueles gostavam de interagir e os deixou começar. Pela forma que eram as apresentações, eu e a menina, ao meu lado, seríamos um dos últimos.
Todos se apresentavam, alguns eram meio tímidos e outros eram extrovertidos demais, com destaque para um aluno chamado Manoel que pedia aos novatos para chama-lo de Mano, era o centro das atenções, quando eu menos esperava fui chamado.
— Me chamo Rafael, tenho 16 anos. — Falei e aqueles olhares me deixaram vermelho de vergonha, mas tinha que seguir. — Gosto de séries, ler livros e principalmente de futebol, meu sonho é me tornar o melhor do mundo. Não gosto de falsidade, esperar demais e de matemática. – Alguns riram nessa hora — Minhas férias foram meio complicadas, pois sou novo na cidade e estava resolvendo minha mudança e matrículas, sem falar que deixei os meus amigos onde eu morava, mas espero fazer amigos por aqui também. — Falei esta última parte com certo desgosto.
— Legal Rafael, temos muito a aprender sobre esta escola. – disse o professor, tentando me animar.
Então chegou a vez da menina falar, confesso que estava muito curioso e tinha medo dela não gostar dessa curiosidade, então torci muito para haver mais momentos como esse. Ela se levantou e olhava para baixo, não era uma expressão de timidez, só parecia querer ignorar a existência da sala. O professor pediu para ela levantar a cabeça e falar mais alto para que a turma pudesse entendê-la.
— Meu nome é Jéssica, tenho 17 anos. — Falou com firmeza. — Gosto de escutar música e não gosto de filme de romance, para mim, é muita mentira em um tempo curto. – Falou e bufou. – Minhas férias não foram legais e é isso.
Um momento... Cadê a tímida garota que estava ao meu lado até pouco segundos atrás? Depois de todas aquelas apresentações, o professor começou a explicar um pouco como seriam as aulas durante o ano e depois iniciou um dos assuntos daquele bimestre, “Iluminismo”, algo que eu sabia, pois, durantes as férias, decidi estudar para ficar atualizado, a minha antiga escola não era tão avançada quanto a atual.
Foi se passando as horas e o sinal tocou, seria aula de Educação Física e ficava a questão: aula teórica ou prática? O recado chegou pela caixa de som na sala, “o professor avisa para que todos se dirijam ao ginásio” e nem preciso falar que todos obedeceram de forma entusiasmada.
Saio da sala em direção a quadra até que percebo a ausência da minha garrafa de água, preciso voltar aquele longo caminho em prol do meu corpo que não aguentaria ficar sem sede por dez minutos.
Volto para sala e somente a Jessica está lá, mas o que ela estaria fazendo ali? Foi ordenado que todos fossem para o ginásio. Vou em direção a minha mochila, que está ao lado dela, e pego a garrafa sem dizer nada, porém a vontade de falar com ela é enorme.
Ando até o bebedouro e começo a encher a garrafa, pensando que deveria ter falado com ela e então após encher, retorno à sala para tirar este peso da consciência. Caminho rapidamente e não a encontro, certamente já se foi para quadra.
Continuo meu caminho para o ginásio e no meio deste caminho vou pensando se eu estava ficando paranoico, afinal, primeiro dia e me sentir obrigado a falar com uma menina que desconheço. Estou chegando perto do ginásio e encontro Jessica ao lado da porta, de cabeça baixa como sempre. O que será que está acontecendo?
No momento decido falar com ela de uma vez e tentar a animá-la, desvio o caminho da entrada do ginásio para ela e a mesma me nota.
— Oi, eu sou Rafael. — Falei sorrindo.
— Eu sei quem você é. — Falou em tom de voz bruto.
— Então, venho percebendo a um tempo… — Por um momento temi minha fala, mas decidi progredir. — É que você está meio na bad e… — Ela me interrompe.
— Não estou, eu apenas estou me defendendo.
— Se defendendo? De quê?
— Você não precisa saber. — Falou e respirou profundamente brava. — Para alguém recém-chegado, você é bem intrometido.
— Ah... Me desculpa, é que…
— É que nada! — Disse e olhou fixamente em mim com um olhar mortal — Me deixa quieta apenas, não preciso de nenhum menino atormentando minha vida… francamente.
Quando iria falar, sentir que alguém se aproximava. Jessica me olhou estranhamente pela forma que parei a frase e olhei para a entrada e vi que vinha um menino de nossa sala. Era o Manoel — ou como lhe chamava, o “Mano” — será que ele veio chamá-nos? Ele para na frente da Jess e ao meu lado.
— Ora, ora, ora... — Sorriu. — Até mesmo com o seu amiguinho aqui você não consegue se dar bem? – Ele riu cinicamente.
— Ah cara, eu não sou amigo dela. — Falei para ele, mas teve o mesmo olhar da Jessica. — O que foi?
— Poderia me deixar a sós?
Pela sua entrada, creio que não seja uma pessoa boa de ser ter uma conversa e o olhar dela diz isso também. Tomarei uma decisão.
— Para quê? – Disse e depois olhei para Jess, ela não estava muito à vontade com a situação.
Ele riu de deboche e depois parou.
— Quanta persistência, hein? – Falou bagunçando meu cabelo. — Agora sai daqui!
— Não irei, deixe a menina em paz!
— Vai ficar no meu caminho?
— Sim. Caso contrário, o que acontece?
— Bem... – Ele sorriu. — Quer saber... Esquece.
Ele saiu e foi para quadra daquele ginásio e para mim foi alívio, pois, utilizei toda minha coragem do mês naquele momento, espero ter valido a pena. Volto para Jessica e percebo seu olhar meio furioso em mim.
— Você está maluco? Ele é o Mano! – Falou desesperada.
— Tem algum problema?
— O problema não é exatamente esse. Você quer arranjar problemas no primeiro dia? Logo quando pensei que você poderia ser normal. – Falou e foi para quadra.
Respirei profundamente e seguir em direção à quadra, que era enorme e com arquibancadas rodeando à quadra, sem falar que havia vestiário, coisa muito nova para mim, pois, na minha antiga escola só havia a quadra e uma arquibancada no lado leste.
Chego na quadra e vejo a Jessica emburrada ao me olhar e o Mano ria baixo, algo que me deixava com um certo temor. Desde que me mudei meu medo era não fazer amigos e de início fiz inimigos na minha própria sala – O que era muito pior – de uma forma facilitada.
O professor de Educação Física era Edgar, ele era branco, alto, de cabelo grisalho, não que isso o torne velho. E aparentava ser uma boa pessoa. Ele inicia a aula nos ensinando a alongar e aquecer, pois, ele diz que no primeiro dia iniciar copiando não daria forças a ninguém e então ele decidiu retirar de forma “mais divertida”.
Corrida para lá, flexão ali e suor pingando no chão, pude sentir ali que ele tinha uma aula prática bastante puxada, pois não sou sedentário para chegar no ponto que estou suado, cansado e com dores na perna.
Fizemos algumas atividades para manter o corpo ativo de acordo com ele e quando encerramos a aula, ainda faltavam 15 minutos, porque alguns alunos foram se cansando e desistindo. Então ele olhou para nós que ainda estávamos de pé.
— Todos aqui. – Ele fala e faz gesto com a mão para aproximarem. – O que vocês pretendem fazer nestes 15 minutos finais? – Falou entusiasmado.
— Por mim, nada. – Falou uma menina que saiu com seu grupo.
Gradualmente, as pessoas foram saindo e ao final restaram 10 pessoas e pude ver um sorriso no rosto do Mano.
— Professor, podemos jogar futsal? – Mano falou e vi o professor pensar um pouco.
— Acho que sim, só tem vocês e não vejo problema nisso. – Falou ele pegando a bola de futsal que estava no seu pé. – Mas não crie problemas.
— Não criaremos.
Vejo que poderei fazer o que gosto logo no primeiro dia, talvez hoje eu demonstre que devo entrar no time.
— Se é assim, podem tirar os times e começar a partida.
Falou, o professor, deixando a bola no meio da quadra e vi o olhar do Mano em mim e logo após fui tirar time com ele e o fato de não conhecer ninguém direito, me limitou e tirei por aparência.
Meu time era dois garotos altos, dois velozes e eu, não sabia de nada até ouvir uma risada do Mano quando tirei um time. Será que eu havia escolhidos as piores opções?
Após isso conversei para saber a posição de cada jogador ali presente, havia dois fixos e dois pivôs – E claro, eu que era goleiro. Isso era algo meio ruim, mas havia como administrar esta possível desvantagem. Nos preparamos e fui para debaixo da trave. Já fazia tempo que eu não chegava perto de uma. Respirei fundo.
Piiiii! Era o som do apito que declarava assim o início da partida. O meu time iniciava o ataque trocando diversos passes, contudo errávamos no último passe e assim seguiu por 5 minutos, sem falar nos trancos do Mano que não resultaram em falta.
O jogo começou a ter um novo mandante, o time adversário começou a nos fazer de bobo, trocando diversos passes e recuando quando era para atacar e isso demonstrava que se quisessem fazer o gol, eles teriam esta capacidade.
Não demorou muito para sair o primeiro gol do time do Mano, após trocas de passes de invejar qualquer time, um jogador corre livre pela ala e fico focado para seu chute que nem percebo que o Mano se desmarca e fica livre na área e assim recebe o toque do seu companheiro e assim fazendo o primeiro gol.
Eles comemoram e Mano me olha rindo, eu não podia dar o luxo de perder para alguém com tamanha ignorância.
A partida recomeça com o time mais tímido e isso me faz ter de sair de minha área a fim de ajudar o time a buscar o primeiro gol, sendo essa uma decisão certa, pois, o time adversário recuou.
Nosso time começou a ganhar coragem e estávamos mandando na partida novamente, mas não passo da metade da quadra a fim de evitar seu segundo gol, pois, é melhor prevenir do que remediar. Mas nada adianta, pois perdemos a bola e assim começo a correr de volta para o gol, entretanto percebo que a melhor opção é ser um fixo e tentar dar o bote na bola.
Corro de volta em direção ao Mano, que está com a posse de bola, e vou lhe dar o bote, porém foi em vão, ele me dar mais um tranco e me derruba e quando caio no chão, ele pisa na minha mão e doe fortemente, a jogada continua e o segundo gol é feito.
Começo a chacoalhar a mão devido à dor, nesse momento vejo meus companheiros de time irem ver minha situação, todos me ajudam e vejo a agitação de alguém entrando na quadra, quem seria? Mas o professor para a partida momentaneamente — ainda validando a jogada — e começa a dar atenção a minha mão, mas não há como voltar para aquele jogo sendo goleiro, peço para alguém ir para o gol, entretanto ninguém se dispõe.
Um jogador do nosso time sai, não bastava está sem goleiro e agora estávamos com um jogador a menos, quando pensei em desistir também, Jessica aparece para falar com o professor e logo após vem a mim.
— Ei, você não está precisando de um goleiro? Você não terá, porém, uma goleira estar disponível. – Falou me dando a mão para levantar-se. — Não se acostume com estas cenas.
— Espera, você joga futsal?
— Nesta escola não, mas o Mano me forçou a isso. – Falou ela e bufou. – Ele é meio ignorante, mas passou do seu próprio limite e como você foi gentil comigo, vou lhe recompensar, mas apenas desta vez.
A Jessica nem parecia aquela garota tímida de quando a aula começou, aquele era definitivamente o primeiro dia de aula mais agitado da minha vida.
A partida recomeçou e eu estava com bastante ânimo, pois pude contar com a ajuda da Jessica e fazer isso foi um tanto difícil devido sua personalidade.
O nosso time ganha um pouco de confiança, mas não o suficiente para conseguirmos chutar, porém isto não era um problema, tendo em vista que a Jessica era uma ótima goleira, ela certamente é do time de futsal feminino desta escola ou até de um profissional.
Faltando poucos minutos para acabar, a atuação da Jessica me obriga a pelo menos empatar e isso podia ser possível no escanteio, meu companheiro pegou a bola e cruzou e Mano desviou de cabeça para entrada da área e lá estava eu, botei meu pé de apoio para trás e esperei chegar, sem deixa cair chutei a bola de voleio e ela morria no fundo da rede.
Gol!
Eu acabava de fazer um belo golaço que não foi bem visto pelo Mano, mas para sua felicidade o jogo terminava ali, com a vitória de Mano. Por um momento fiquei meio decepcionado pelo resultado, mas lembrei-me da Jessica que estava saindo da quadra e fui até ela.
— Jessica! – Falei e parei para respirar um pouco. — Muito obrigado pela sua ajuda, não sabia que jogava tão bem.
— D.... De nada. – Falou e respirou também. — Foi bom da sua parte não cair em sua provocação, talvez você não seja tão sem caráter quantos os meninos antigos desta escola.
— Eu com certeza não sou. – Rir um pouco pela sua afirmação. – Podemos jogar um outro dia, pode ser?
— Vou pensar no seu caso. – Falou ela se despedindo.
Eu nem podia acreditar que uma menina poderia jogar em tão alto nível. Fui ao banheiro do vestiário trocar a roupa e quando retornei à sala, todos me olhavam de uma forma estranha. O que era aquilo?
Volto para casa de ônibus e não encontro ninguém em casa, apenas um bilhete de minha tia que dizia: “Rafael, eu tive um pequeno imprevisto no emprego e só volto à tarde. Prepare o jantar. Ha Ha.” E vi que hoje passaria o dia só, sorte que tenho coisas a fazer e dois amigos para tirar suas curiosidades, mas depois do banho.
Logo após ele, entrei no Chatlinx e vi que meus amigos, Heuller e Victor, estavam online. Mandei um “Olá” para os dois e cerca de cinco minutos depois eles me responderam em nosso grupo de novidades, pois não havia segredo entre nós.
Eu contei a eles sobre como haviam sido as aulas de história e educação física, o porquê de ter chegado cedo em casa e a fatídica partida em que até agora sinto dor ao digitar.
Se a conversa se prolongasse iria ter um final ameaçador para o Mano, então decidi inventar uma desculpa de que teria de me ocupar para evitar aquela confusão. Sai do Chatlinx e coloquei minha playlist de músicas calmas e comecei a arrumar meu quarto que estava uma bagunça.
Depois disso, eu pensei um pouco a respeito do que havia ocorrido nas poucas horas daquele início de dia e quando me dei conta já era hora de almoçar.
Se passaram horas e horas e a noite chegou, minha tia chegava juntamente com meu tio que estava bem animado.
Não sabia o porquê daquilo, mas os sentimentos que me invadiam naquele momento pela alegria do meu tio não me davam razão para haver explicação.
Sentamos à mesa e fomos jantar, meu tio contava diversas histórias de seu dia de pesca com amigos, pois ele estava de folga esta semana.
Meu tio se chama Marcos, ele é gerente de uma loja de antiguidades, além de minha tia ser sua paixão, ele também tem uma queda pela pesca.
Minha tia se chama Adriana, ela é uma agente de viagem e para sua sorte trabalha em uma das melhores agências de viagem do país, ela tinha o sonho de ser aeromoça, mas o universo não decidiu presenteá-la.
Na minha casa provisória tinha mais um morador, eu, devido ao fato de a mudança não ter sido concluída, mas eles acharam melhor eu iniciar as aulas nesta cidade, assim já iria me enturmando.
— Você tinha que ver a cara do Roberto quando peguei o Jundiá! Isso que deu ao tentar-se aproveitar de um aproveitador. – Meu tio falou e riu. — Mas vamos esquecer minha tarde e vamos focar na manhã do Rafael. Conte-nos sobrinhos como ela foi.
Por um momento refleti se deveria contar tudo e decidi não falar muito sobre o que ocorreu.
— Tudo normal para alguém que é novo em uma escola. – Falei e forcei um sorriso. — Fiquei tímido, houve aula e as pessoas parecem ser legais.
— Hã? – Minha tia ficou encucada. — Ninguém falou contigo? Como as pessoas são mal-educadas nesta escola hein. – Falou e fechou a cara.
— Calma tia, não foi falta de educação e sim timidez por parte dos alunos como houve por minha parte. – Disse na tentativa de acalmar. — A diretora falou comigo, o professor e a Jessica também.
— Jessica? – Meu tio indagou.
— Ah, esqueci de falar dela. – Falei e me senti um bobo. — Ela é minha colega de mesa e até que conseguir de certa forma falar com ela.
— Certa forma? – Perguntou minha tia.
— Sim, como eu havia dito, é difícil criar coragem para falar com um estranho.
— Francamente, Ricardo criou um filho mole hein. – Disse ele provocando.
A conversa progrediu bem, sem que houvesse outros questionamentos como estes, eles pareciam entender que algo havia ocorrido e eu torcia para que nada fosse descoberto ou perguntado.
Mesmo podendo confiar neles, prefiro que os fatos se mantenham em sigilo até a poeira baixar na escola. Falando em baixar a poeira, isso tem seus prós e contras.
Eu quero fazer amigos e preciso chamar atenção, no entanto, a atenção que chamei possa ser negativa.
Não deve ser ruim está por perto da Jess e ter uma certa rixa com Mano.
Falando naqueles dois, qual a relação dos dois? Eles parecem que são próximos ou já foram.
Eu certamente penso demais para os acontecimentos de um único dia. Seria normal haver alguma intimidade, já que sou o único novato da sala.
Comments