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CAPÍTULO 7 - O MACHUCADO E A DEMONSTRAÇÃO DE GRATIDÃO

Atualizado: 21 de set. de 2023

Todos os dias, no caminho de casa, Amane passava pelo parque onde ele e a Mahiru haviam se encontrado pela primeira vez.

O prédio onde o Amane morava era mais voltado para pessoas solteiras e casais do que para uso familiar, então havia poucas crianças ao redor e os prédios de apartamentos ao redor eram mais ou menos iguais.

Isolado e fora de vista, o pequeno parque, perto do prédio do Amane, era frequentemente deserto. Foi naquele pequeno parque que, desprovido de crianças, o Amane viu a Mahiru pela segunda vez.

“O que você está fazendo em um lugar como este?” ele perguntou.

"Nada.” Mahiru estava sentada em um banco com postura ereta, e não se mexeu nem um pouco, mesmo depois de reconhecer o Amane e olhar para ele.

Ao contrário da primeira vez que os dois se encontraram lá, desta vez eles já estavam familiarizados e se falavam. Isso deixou mais fácil para o Amane chamar a Mahiru, mas a voz da garota ainda estava dura quando ela respondeu. Não parecia que a Mahiru estava em guarda, como havia estado no primeiro encontro. Isso foi algo diferente. Amane podia dizer que a Mahiru estava sendo cautelosa para não deixar alguma coisa aparecer em seu rosto.

“Ah, qual é, se não fosse nada, você não estaria sentada aqui fazendo essa cara. Aconteceu alguma coisa?” Amane a questionou.

"Na verdade…” Mahiru parecia, como antes, quando estava no balanço durante a tempestade, como se estivesse perdida e não soubesse o que fazer. Vê-la assim preocupou o Amane, mas a Mahiru não parecia interessada em falar sobre o assunto.

Embora ele estivesse preso à promessa secreta de não interagir fora de seus apartamentos, Amane não conseguiu evitar de chamar a Mahiru, quando a viu sozinha no parque de novo. Mahiru, por sua vez, provavelmente não queria falar com ele; sua expressão era rígida e vazia.

Amane pensou que estava tudo bem se a garota não estava com vontade de conversar, quando percebeu que havia vários fios de cabelos brancos grudados em seu blazer. “Você tem alguns fios presos no seu uniforme; você estava brincando com um cachorro ou um gato?” ele perguntou.

“Eu não estava brincando. Eu apenas ajudei um gato que estava preso em uma árvore a descer.", Mahiru explicou.

“Que clichê total… Ah, entendi agora.”

“Hmm?”

“Espere aí. Não se atreva a se mexer.”

Amane finalmente percebeu o porquê a Mahiru estava sentada no banco. Ele suspirou e saiu correndo. Amane tinha certeza que a Mahiru iria fazer o que ele pediu e não iria a lugar algum. Na verdade, seria mais apropriado dizer que ela não podia ir a lugar nenhum

Resmungando consigo mesmo sobre como a Mahiru escolhia os momentos mais estranhos para agir dura, Amane comprou uma compressa e esparadrapo na farmácia do bairro, além de um copo de gelo normalmente usado para café gelado em uma loja de conveniência. Quando o Amane voltou para o parque, encontrou a Mahiru sentada no banco, exatamente como ele esperava. Ela não havia se mexido nem um pouco.

“Shiina, tire as suas meias-calça.”

“Huh?”

Ele deu uma ordem direta, e ela respondeu com uma voz extremamente fria.

“Sim, eu sei que é meio repentino… Olha, eu vou colocar meu blazer sobre você e me virar, então tire as meias-calças. Precisamos colocar gelo no machucado e colocar uma compressa nele.”

Como era de se esperar, a Mahiru não ficou muito feliz ao receber a ordem de tirar as meias-calças. Então, como explicação, o Amane acenou com uma sacola cheia de suprimentos médicos.

O rosto da Mahiru compreensivelmente se contraiu. "Como você sabia?”

“Você tirou um de seus mocassins, e este tornozelo parecia levemente inchado. Além disso, você não tentou se levantar. É realmente um clichê torcer o tornozelo enquanto resgata um gato.”

“Oh, fique quieto.”

“Sim, sim. Agora, tire as suas meias-calças e me dê seu pé.”

Era algo que qualquer um saberia só de olhar, mas a Mahiru estava fazendo uma cara feia, talvez porque não esperava que ele percebesse que ela estava machucada. Obedientemente, Mahiru aceitou o blazer do Amane e o colocou sobre os joelhos, então parecia que ela ia ouvir o que ele estava dizendo.

Amane virou as costas para a Mahiru, colocou o gelo no copo que havia comprado na loja de conveniência em um saco plástico e derramou água sobre ele.

Depois de amarrar a tampa para não vazar, ele a enrolou frouxamente em uma toalha de mão, que guardava em sua mochila, fazendo uma bolsa de gelo improvisada. Então, ele se virou lentamente.

Mahiru fez o que ele pediu e tirou as meias-calças, expondo as suas pernas nuas. Eles eram finos e macios, e pareciam macios mesmo quando ela ficava tensa. O inchaço artificial ao redor do tornozelo era visível.



“Bom, não está muito inchado, mas pode piorar se você mexer demais. Em primeiro lugar, isso vai estar frio, mas vamos gelar um pouco. Quando a dor passar um pouco, vou colocar uma compressa, então vá com calma.", Amane explicou.

"Obrigada.”

"A partir de agora, basta pedir minha ajuda. Não é como se você devesse para mim ou algo do tipo.”

Na verdade é o oposto, quero retribuir de alguma forma tudo o que você fez por mim, por tanto, eu agradeceria se me deixasse resolver um ou dois problemas para você.

A Mahiru exibiu sua expressão natural. Mesmo assim, ela não discutiu com o Amane e, em silêncio, deixou que ele aplicasse gelo em seu tornozelo, enquanto sua perna estava apoiada no banco.

“A dor melhorou?” Amane perguntou depois de um tempo.

"Sim, um pouco.", Mahiru respondeu.

“Certo, estou colocando a compressa, então… não fique brava comigo por ser um pervertido ou algo assim, tudo bem?”

“Eu não diria algo tão grosseiro para uma pessoa que está me ajudando.”

“É bom ouvir isto.”

Ressaltando que ele não tinha nenhum pensamento desagradável, Amane se agachou ao lado da perna da Mahiru, e colocou a compressa em seu tornozelo vermelho e inchado.

Quando o Amane perguntou inicialmente sobre o nível de dor, parecia ser o tipo de situação em que a Mahiru ainda podia ficar em pé e andar, mas se movimentar poderia agitar ainda mais a entorse, por isso, era melhor ela ficar sentada em silêncio. Desde que ela não se mexesse, provavelmente continuaria sendo um ferimento leve.

Amane tinha acabado de colocar a compressa e estava prendendo-a com fita, quando ele notou a Mahiru olhando fixamente para ele.

“Você é surpreendentemente habilidoso com isso, “ ela comentou.

“Bom, eu posso fazer os primeiros socorros. Mas ainda não sei cozinhar.” Amane encolheu os ombros, agindo como um bobo, e a Mahiru soltou uma pequena risada. Ele ficou feliz ao ver a expressão tensa dela relaxar um pouco, mesmo que fosse só um pouquinho. Tranquilizado pela atitude um pouco mais suavizada da Mahiru, o Amane tirou as calças de seu uniforme de ginástica da mochila.

“Aqui.", disse ele, entregando-os à Mahiru.

“O que?” ela perguntou.

“Não faça essa cara para mim; eu não gosto disso. De qualquer forma, suas pernas estão expostas, certo? E não é como se você pudesse colocar as meias-calças de volta com a compressa grudada em você. Relaxa, eu não os usei.”

Seria ruim deixá-la colocar as meias-calças de volta sobre o tornozelo inchado, especialmente agora que tinha esparadrapo enrolado em volta. Como parecia muito doloroso, Amane achou que a Mahiru poderia usar sua calça de ginástica, tanto para se proteger do frio quanto para impedir que alguém visse sua roupa íntima.

Mahiru parecia entender que ele estava tentando ser atencioso e, por isso, ela vestiu as calças.

Amane pegou seu blazer e entregou a Mahiru a parka que ele estava usando.

“Aqui, vista isso.", ele falou para ela.

“Espere, mas por quê?”

“Você quer ser vista sendo carregada?”

Deixar a Mahiru andar com o tornozelo machucado era uma má ideia. Amane estava planejando levá-la para casa desde o início. Afinal de contas, ambos estavam indo para o mesmo lugar.

“Oh, desculpe, mas você poderia colocar a minha mochila?” Amane perguntou. “Eu não posso lhe carregar, se eu estiver com ela nas costas, obviamente.”

“Existe alguma opção em que você não me carregue?”

“Olha aqui, seu tornozelo está torcido, então, você precisa descansá-lo. Não há ninguém por perto, e eu tenho pernas perfeitamente boas, então, por favor, faça uso delas.”

“Suas pernas?”

“O quê, você prefere meus braços? Você prefere que eu te apoie pelo lado?”

“Você é realmente forte o bastante para me carregar desta forma?”

“Você está brincando comigo?... Bom, na verdade, não estou tão confiante assim.”

Amane sabia que poderia apoiar a Mahiru se ela se apoiasse nele, mas sinceramente, seria muito difícil carregá-la por todo o caminho de volta ao complexo do apartamento. E mais além disso, isso com certeza atrairia muita atenção, o que o Amane preferia evitar.

Ele sabia que a Mahiru estava zombando quando ela mencionou a força dele, então ele sorriu, feliz por ela estar se sentindo bem o suficiente para fazer piadas como aquela.

“Se quiser, coloque o capuz e use minha mochila. Depois de subir nas minhas costas, pegue sua própria bolsa também, já que está fazendo isso. Eu não irei ser capaz de segurar ela, se eu estiver te carregando.", Amane instruiu.

"Desculpe.", Mahiru murmurou.

“Estou te falando: Está tudo bem. Não seria muito viril da minha parte deixar uma pessoa ferida para trás e ir para casa—ou para fazer você andar.”

Amane se agachou e se afastou dela, e a Mahiru timidamente se apoiou nas costas dele.

Mahiru estava vestindo a parka do Amane, então ela estava com mais roupa do que o normal, mas, mesmo assim, ele podia sentir o corpo dela pressionando contra ele, esbelto e forte.

Depois de confirmar que os braços da Mahiru estavam presos em seu pescoço sem sufocá-lo, Amane se levantou lentamente, carregando a garota ferida nas costas.

Eu sabia; ela é muito leve, Amane pensou. Ela se perguntou se não deveria ser ele a ficar preocupado com a dieta dela, e não o contrário. Era mais provável que ela fosse apenas naturalmente pequena, no entanto; provavelmente era só isso.

Mahiru tinha um cheiro ligeiramente doce e, embora o Amane pudesse perceber todo tipo de coisa sobre o quanto ela estava se sentindo ansiosa com base na força que ela se agarrava a ele, Amane se dirigiu para casa demonstrar isso.

Algumas pessoas ficaram olhando ao ver um cara carregando alguém nas costas, mas a Mahiru havia coberto completamente seu rosto com o capuz de sua parka, então o Amane não estava muito preocupado com a pouco atenção que estava sendo dada a eles.

“Certo, aqui vamos nós.” Amane carregou até a porta da frente, então a colocou no chão e rapidamente se virou para sair sem interferir mais.

Como a Mahiru podia se locomover sozinha enquanto se apoiava na parede, o Amane imaginou que seu ferimento provavelmente não era tão grave. Felizmente, era sexta-feira, então a Mahiru tinha bastante tempo para descansar o tornozelo e voltar a se levantar sem problemas.

“Eu não preciso de jantar hoje à noite, por tanto, você deve descansar. Se quiser, posso lhe trazer alguns suplementos nutricionais.” Amane ofereceu.

“Eu estou bem. Tenho algumas coisas preparadas.", Mahiru respondeu.

“Isso é bom. Até mais.”

Isso era o mais importante: que a comida não seria um problema. Era essencial que a Mahiru fosse capaz de ficar quieta e descansar. Amane observou-a abrir a fechadura da sua porta da frente, e ele também pegou a chave do apartamento.

"Um.", ela começou.

“Hmm?”

Quando o Amane ouviu a voz da garota e se virou, viu que ela estava olhando timidamente para ele, enquanto segurava a bolsa contra o peito. Ela parecia um pouco perturbada, mas quando ele inclinou a cabeça em sinal de confusão, ela pareceu recuperar a determinação e olhou diretamente em seus olhos.

"Obrigada pelo o que você fez hoje. Você realmente me salvou.", Mahiru admitiu.

“Está tudo bem, sério. Eu só fiz isso porque eu quis. Se cuide.” Envergonhado com a ideia da Mahiru se preocupando com sua ajuda, o Amane rapidamente afastou o pensamento de sua mente. Depois que a Mahiru deu a ele um aceno rápido, Amane se virou para destrancar sua própria porta. Foi então que o Amane percebeu que a Mahiru ainda estava usando sua parka e calça esportiva, mas ele tinha certeza que ela as devolveria em outro dia, então entrou em seu apartamento sem dizer nada.

“Poxa, cara, você é tão saudável que agora usa bermuda durante o ano agora?”

A melancolia do Amane na aula de ginástica de segunda-feira tinha menos a ver com sua falta de talento atlético e mais com o fato de que ele estava usando shorts de jersey na altura do joelho durante uma estação desagradavelmente fria. Todos os outros já haviam trocado seus uniformes de ginástica para os de inverno, mas o Amane se destacava de todos o resto, com as pernas nuas abaixo do joelho.

“Até parece. Eu apenas esqueci minhas calças.”

“Idiota.”

“Cala a boca.”

Amane não tinha visto a Mahiru no fim de semana, e ela ainda estava com as calças de ginástica dele, mas ele não podia dizer isso a Itsuki, então havia nada a fazer a não ser dizer que tinha esquecido. No entanto, ele já havia se conformado com a inevitável zombaria, embora quando o Itsuki deu um tapa em suas costas, rindo, o Amane ainda se sentiu à vontade para lhe dar um tapa de volta.

Amane soltou um suspiro suave ao ver o Itsuki gemer baixinho. Em seguida, seu olhar desviou. No momento, os garotos estavam praticando seus saltos altos, e as garotas estavam usando o outro lado do campo. Além disso, como duas turmas de alunos estavam usando o campo ao mesmo tempo, ele estava bastante lotado.

As garotas estavam praticando diferentes eventos de atletismo, por tanto, entre os turnos, as garotas tinham muito tempo para assistir a classe do Amane.

“Faça o seu melhor, Kadowaki!”

Normalmente, os garotos e as garotas tinham aulas de ginástica em locais diferentes do campus; com as garotas presentes, os garotos estavam ficando muito agitados. As garotas, por outro lado, passavam seu tempo observando o colega de classe mais popular do Amane, o belo Yuuta Kadowaki.

Amane nunca havia conversado com ele antes, mas ele era simpático com todas e era um ótimo aluno e, além disso, era o craque do clube de atletismo, apesar de ser um primeiranista. Todo mundo sabia que ele era popular com as garotas. Amane imaginou que o Yuuta poderia ter ganhado algum tipo de loteria cármica. Muitos dos outros garotos não se importam tanto com ele e sempre havia muitos olhares de mau humor quando ele estava por perto.

“Oh, uau, parece que o Yuuta está tão popular como sempre.", Itsuki observou.

“É o que parece.", Amane respondeu sem graça.

“Você não parece tão interessado.", Itsuki insinuou.

“Bom, não é como se fossemos amigos ou algo assim; nós quase nunca se falamos. Então por que eu deveria me importar?”

Não era como se o Yuuta fosse mau ou tivesse mexido com o Amane Eles não tinham nada a ver um com o outro, então o Amane honestamente não ligava. Ele sabia que estava em minoria ali, mas não conseguia invejar o Yuuta da mesma forma que todos os outros garotos. Mais especificamente, Amane sabia que o Yuuta estava tão fora do seu alcance que inveja-lo era inútil.

“Típico do Amane. O quê, você não fica com ciúmes agora?” Itsuki perguntou.

“Oh, eu deveria ser tipo ‘Uau, eu estou com taaanta inveja da sua popularidaaade’, huh?” Amane zombou.

“Isso foi muito bom.” Itsuki gargalhou.

Amane olhou para o Yuuta, que estava com um sorriso brilhante e se desfrutando com a adoração feminina. Até mesmo o Amane teve que admitir que o corpo e o rosto bonito do Yuuta o faziam parecer um príncipe. De fato, algumas garotas começaram a chamá-lo assim.

Yuuta retribuiu os olhares apaixonados e as vozes estridentes das garotas com outro sorriso e acenou de volta para elas. Ele realmente sabia como cultivar um público.

“Bom, ele com certeza é popular, não há o que discutir.", Itsuki admitiu.

“Eu sei. Os outros caras não podem conter a sua inveja.", Amane disse.

“Haha. Mas as garotas também são muito energéticas.” Itsuki só tinha olhos para a sua namorada, Chitose. Ele não tinha interesse em outras garotas, então ele considerava o problema do Yuuta como responsabilidade de todos os outros. Chitose não estava nem um pouco interessada no Yuuta, então o Itsuki provavelmente gastou muita energia pensando nele.

Temos um príncipe e uma anjo… Esta escola tem muitas pessoas com apelidos irritantes.

Pensando bem, eu me pergunto se a Mahiru, o anjo, acabou descansando o suficiente. Amane não tinha a visto sair de seu apartamento no fim de semana. Era bom que ela estivesse descansando confortavelmente, mas ele ainda se perguntava sobre o estado de seu ferimento.

Amane examinou furtivamente o campo com os olhos. Sua classe estava dividindo o campo com a Mahiru, então ela deveria estar lá. Sem muito esforço, Amane a avistou. Mesmo em uma multidão, era fácil identificar o anjo. Ela não havia trocado de roupa de ginástica e não estava treinando com o resto da turma. Aparentemente, ela estava de fora hoje.

Amane tinha certeza de que não era o único garoto olhando para a Mahiru, que estava sentada ali parecendo pequena e quieta. Embora estivessem longe um do outro, seus olhos se encontraram de repente, e quando o Amane desviou o olhar desajeitadamente, viu um pequeno sorriso passar pelos lábios da Mahiru. Como ela estava olhando para o Amane, isso significava que ela também estava olhando para o resto dos garotos. Cada um dos colegas de classe do Amane tomou o sorriso para si, quase provocando um tumulto.

“Ela acabou de sorrir para mim?!”

“Nem pensar; deve ter sido para mim!”

“Esta é a nossa chance! Temos que impressioná-la”

“O príncipe está ocupando os holofotes.”

Só de pensar que a Mahiru poderia causar tanta emoção com apenas um sorriso… Amane não sabia se era porque ela era incrível ou porque os garotos eram tão simples.

"Bando de idiotas.", Itsuki murmurou. Ele aparentava estar pensando a mesma coisa.

Amane deu uma risada. “Bom, se não quisermos ser reprovados na aula de ginástica, é melhor nos mexermos também.”

“O que é isso, Amane? O olhar celestial do anjo também o deixou todo agitado?”

“Não, nada disso. Eu já te falei, eu não estou interessado.”

“Bom, acho que vou parar com isso, então. Já que você não se importa e tudo mais.”

Itsuki parecia que estava prestes a começar a se gabar de como as namoradas são ótimas, provavelmente citando sua própria experiência pessoal, mas o Amane foi rápido em afastá-lo.

“Sim, sim.", ele disse. Ele deu mais uma olhada na direção da Mahiru e sorriu ironicamente.

“Obrigada pelo o que você fez no outro dia. Aqui está sua parka e calça moletom de volta.”

Naquela noite, quando a Mahiru lhe trouxe a porção do jantar, ela estava carregando um saco de papel, além do recipiente de plástico. Amane pôde ver de relance que a parka e as calças que ele havia lhe emprestado há alguns dias atrás estavam bem dobradas na bolsa.

“Mm. Como está o tornozelo?” ele perguntou.

“A dor já quase desapareceu. Eu decidi não fazer qualquer exercício até estar completamente curada.", Mahiru respondeu.

“É melhor assim. Parece que você também vai ficar de fora da aula de ginástica.”

“Sim.”

Mahiru tinha decidido ser cautelosa e não participar das aulas de ginástica, e o Amane pensou provavelmente que era a atitude certa. Seu tornozelo não parecia estar mais machucando, mas ela ainda estava com a perna levemente inclinada quando andava, indicando que provavelmente não estava totalmente curada.

Enquanto o Amane acenava com a cabeça para a decisão sensata da garota, ele se lembrou da aula de ginástica de hoje e sorriu de repente. “Sabe, você é realmente incrível, querido anjo. Com um único sorriso, todos os garotos estavam praticamente explodindo de emoção.”

“Eu te falei para parar de me chamar disso… E não é como se eu gostasse desse tipo de atenção. Isso realmente me incomoda, sabe.", Mahiru disse.

“Bom, quem não ficaria animado quando uma pessoa bonita olha para ele? Você sabe, as garotas também começaram a gritar hoje, quando o Kadowaki acenou para elas.”

"Kadowaki… oh, aquele cara super popular?” Mahiru parecia não estar tão interessada no príncipe. Na verdade, era como se ela até não reconhecesse o nome dele. Amane teve que descrevê-lo um pouco antes que a Mahiru percebesse de quem ele estava falando.

Yuuta não era tão popular quanto o anjo, mas era um garoto bastante conhecido em sua série, por isso o Amane ficou surpreso por ela não saber quem ele era.

“Você não está interessada nele?” Amane perguntou.

“Não particularmente. Nós estamos em salas diferentes, e nunca se falamos.", Mahiru respondeu.

“Hmm. As outras garotas ficam loucas por ele, no entanto. Elas não se cansam de ver esse cara descolado.”

“Bom, ele tem um rosto bonito. Mas, nós não conversamos; não temos nenhuma conexão. Então eu realmente não ligo.”

“Você é tão sincera sobre coisas como essa.", Amane observou.

“Bom, se a aparência é tão importante assim, você não acha estranho que você não goste de mim?” Mahiru perguntou.

“Oh, então você sabe o quanto é bonita?”

Mahiru estava bastante certa no que ela disse. A beleza pode ser a faísca que acende afetos maiores, mas raramente é a única fonte de amor. Amane concordou com isso, assim como concordou que a Mahiru era muito bonita. Certamente foi uma surpresa ouvi-la dizer por si mesma, no entanto.

“Sei que, objetivamente falando, sou considerada muito atraente e me esforço muito para manter minha aparência. É natural. Considerando a frequência com que as pessoas dão muita importância à minha aparência, posso saber o que elas pensam de mim, mesmo que eu não queira saber.” Mahiru não parecia estar se vangloriando nem um pouco.

Ela certamente estava sendo honesta quanto ao esforço que dedicava em sua aparência. A Mahiru sempre teve rosto bonito, mas claramente ela não se contentava com sua aparência natural. Seu cabelo era como uma auréola radiante, condizente com seu apelido angelical e o brilho de sua pele também era sempre perfeito, sem uma única mancha. Suas mãos não ficavam rachadas, mesmo quando ela fazia tarefas domésticas, e até suas unhas eram lindamente polidas. As curvas suaves de seu corpo revelavam uma figura bem equilibrada que provavelmente exigiu algum esforço para ser cultivada.

“Vou falar uma coisa bem direta, então não fique brava comigo….", Amane começou, “Mas… Você não parece envergonhada com todos esses elogios.”

“Eu ficaria irritada antes de ficar constrangida se alguém não parasse de me elogiar.", Mahiru respondeu severamente.

“Acho que ser bonita tem suas próprias dificuldades.”

“Ainda assim, a beleza tem suas vantagens, então acho que não devo reclamar.”

“Você diz como se não soubesse…”

“O quê? Você prefere que eu diga timidamente ‘Oh, não, isso não é verdade!’?”

“Não, como alguém que sabe como você realmente é, isso seria estranho.”

“Exatamente. Honestamente, não vejo sentido em fazer uma encenação como essa na sua frente.”

“Fico feliz em ouvir isso.”

Mahiru havia abandonado recentemente sua personalidade pública perto do Amane, por tanto, se ela mudasse de volta agora… o Amane poderia sentir arrepios ao pensar em confrontar o anjo distante que ele viu na escola, em vez da garota que ele estava gradualmente conhecendo.

No fim, as coisas entre os dois permaneceram como estavam.

Amane olhou para o recipiente de comida que lhe foi entregue. Na verdade, havia mais comida do que o normal. O recipiente estava cheio de vários acompanhamentos, cada um com uma porção grande. Em vez de sobras, era como se o Amane tivesse recebido uma caixa de almoço luxuoso.

“Hoje é um prato cheio.", ele disse.

“Porque você cuidou muito bem de mim.", Mahiru respondeu.

“Eu te falei para não se preocupar com isso… Oh, há croquetes aqui!” Amane nunca poderia dizer não aos croquetes.

Os croquetes eram frequentemente vendidos à la carte, mas podiam ser muito difíceis de fazer. Como tal, você pode considerá-los o auge da comida caseira. Depois de cozinhar as batatas no vapor, amassá-las, misturar a carne refogada, as cebolas e outros ingredientes, e então formar os rissóis, era preciso resfriá-los completamente, adicionar a massa e fritá-los. Isso era um processo muito atraente. Até o Amane, que raramente cozinhava alguma coisa, tinha visto sua mãe fazer croquetes e decidiu nunca fazê-los ele mesmo porque eram uma chatice.

“Bom, eu já os tinha preparado e resfriado, então apenas precisei fritá-los.” Mahiru explicou.

“É por isso que também tem frango frito?” Amane perguntou.

“Isso mesmo.”

Morando sozinho, Amane não tinha oportunidade de comer muitos pratos fritos, por isso ele ficou grato pela comida artesanal. É claro, que eles são melhores quando são feitos na hora, enquanto ainda estão bem crocantes, servidos com arroz quente.

"Em algum momento, eu gostaria de experimentá-los diretamente do oléo.", Amane murmurou.

Mahiru havia colocado o frango frito no recipiente depois de deixá-lo esfriar, talvez por razões higiênicas. Portanto, não importa o que, Amane precisaria esquentar a comida novamente. Embora fosse possível restaurar a textura crocante dos alimentos fritos por meio de um forno de torradeira, ainda assim não era a mesma coisa que comer o alimento fresco. Amane não tinha dúvidas de que a comida da Mahiru ainda seria deliciosa, é claro, mas provavelmente seria ainda melhor se fosse tirada da frigideira.

Amane não tinha a intenção de sussurrar o que estava pensando; seu desejo simplesmente escapou de seus lábios. Infelizmente, ele falou alto o suficiente para que a Mahiru levantasse um pouco as sobrancelhas.

“Você está me convidando para ir à sua casa?” ela perguntou.

“Não é nada disso que estou dizendo! Já é muita presunção da minha parte compartilhar suas refeições." Amane não quis dizer isso de forma alguma, e ele encolheu os ombros e negou intensamente.

Mahiru levou uma mão à boca e dirigiu o olhar para baixo. Ela parecia estar pensando em algo e não fez contato visual com o Amane.

"Sua parte.", ela finalmente disse.

“Huh?”

“Deixe-me cozinhar em seu apartamento, e podemos considerar isso como parte do pagamento de sua parte das despesas com alimentação.”

A proposta repentina da Mahiru deixou a boca do Amane aberta em estado de choque.

A menção acidental sobre comer as frituras frescas tinha sido mais um desejo sarcástico do que qualquer outra coisa. O fato da Mahiru ter realmente considerado e concordado com isso, deixou o Amane completamente desnorteado.

Normalmente, quem pensaria em ir à casa de um garoto muito bem para preparar o jantar? Talvez fosse mais eficiente cozinhar na casa dele em vez de levar a comida depois, mas ele era do sexo oposto e não eram amigos íntimos. Isso não deixaria a Mahiru desconfortável?

“Você definitivamente não precisa fazer isso; Já recebi muito mais do que eu poderia pedir, muito mais do que eu merecia… Não está preocupada com sua segurança?”

“Se você tentar alguma coisa, eu irei esmagar você. Com força. Sem piedade.”

“Ah! você é assustadora! Eu senti um calafrio.”

“Bom, suponho que não chegaremos a esse ponto. Você já sabe quais são os riscos, e eu decidi que você não vai fazer nada. Você sabe como sou popular na escola, certo?”

“Mesmo supondo que eu tentasse algo, seria o meu fim.”

Mahiru era muito mais popular do que o Amane e, além disso, todos a viam como uma garota delicada, por tanto, se espalhasse a notícia de que o Amane havia pensando em fazer algo inapropriado com ela, ele tinha certeza de que nunca mais seria capaz de pisar na escola novamente. Amane não era burro ou sem príncipios a ponto de tentar algo sabendo que isso significa, na melhor das hipóteses, a ruína social. De qualquer forma, ele não estava interessado.

“Além disso….", Mahiru acrescentou.

“Além disso?” Amane perguntou, incentivando-a a continuar.

“Você nem mesmo é o tipo certo para alguém como eu.", Mahiru afirmou com uma cara séria e, de repente, sorriu.

“E se eu fosse o seu tipo?” Amane pressionou.

“Em primeiro lugar, acredito que foi você que insistiu em falar comigo. E depois decidiu me ignorar completamente.”

“E isso a conquistou?” Amane perguntou.

“Quero dizer, isso me diz que você é inofensivo o suficiente.", Mahiru explicou.

“Uh, obrigado, eu acho.”

Que isso fosse bom ou não, Amane não podia negar que isso era verdade. Afinal de contas, ele nunca teve intenção de fazer nada com a Mahiru, para começar. Uma coisa era certa, no entanto: o Amane não perderia a chance de saborear uma refeição feita na hora. Ele aceitou o título de sujeito inofensivo e ganhou o privilégio de compartilhar o jantar.





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2 Comments


dcandrade1981
dcandrade1981
May 25, 2023

Obrigado pelo capítulo! ^^

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Für Elise
Für Elise
May 25, 2023

Obrigado pelo capítulo 🙌

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