O colégio talvez seja o local mais comum durante a infância e adolescência, então não é de se estranhar que muitas coisas aconteçam nesse período. Isso não foi diferente na vida de Beatriz. Uma aluna comum do ensino médio, 16 anos, vaidosa, possuía grupo de amizade, estatura normal, notas medianas. Nada incomum você diria... Está errado!
Embora aparenta ser uma jovem normal, seu amor por livros é anormal. "Onde tu fores, eu também irei", essa frase se aplicava à ela e qualquer que fosse o livro. Por conta disso, ela virou bibliotecária da escola. Logicamente, lhe havia outros gostos pessoais como a música e as séries. No entanto, sua reputação no colégio para alguns era de Nerd, já que alguns lhe viam como estudiosa para amar os livros, mas nem por isso ela sofria bullying. Ela vivia a vida perfeita.
- Uau Bia, utilizando um telefone ao invés de um livro. Finalmente virou uma jovem de verdade. Deixe-me ver o que está fazendo. - Dizia Natália.
Natália era a melhor amiga de Beatriz desde o oitavo ano, ambas se davam muito bem, mesmo que as duas se desentendesse sobre o conceito do que é ser um jovem. Após sua fala, se inclinou para olhar atentamente ao que ocorria na tela do smartphone de Bia. Houve uma decepção por parte de sua amiga, já que ela viu novamente mais um livro, somente sendo diferenciado pelo fato de ser digital dessa vez.
- Amiga, sério isso? - Indagou Natália - Estava feliz por finalmente utilizar seu celular e você faz seu uso para... ler!?
- Se decepcionar? Não é comum me ver lendo algo? - Respondeu Bia de sua forma - Eu estava querendo ler "Minha comédia romântica falida", só que só existem versões em PDF. Por quê não tem uma editora nessas horas?
- Eu realmente não lhe entendo.
- Esse livro é de uma saga do Muryllo Souza e, para minha infelicidade, aparenta que ele não conseguiu a confiança da editora dele para continuar a publicação.
- Ok, ok, ok... Me dê o telefone por um momento, preciso ver algo na internet.
- E cadê o seu?
- Descarregou e não achei o carregador. - Disse com uma cara boba.
Ela encerrou, por enquanto, a sua leitura afim de poder ajudar sua amiga. Uma era oposta da outra, mas mesmo assim se davam bem. Bia era calma e Natália era bem energética. O que lhes unia era o fato de ambas terem se ajudado em um momento tão difícil no 8º ano. Amizade perfeita? Talvez. O preocupante era os pensamentos adiantados de Natália, onde ela entendia que, após o término do ensino médio, as duas perderiam o contato, coisa que foi negada por Bia diversas vezes.
Tocou o sinal, anunciando horário para os clubes escolares. Seu colégio era público, mas adotava o sistema integral, então era comum haver horários não direcionados a aulas específicas. Ela não participava de nenhum clube. Na verdade, não havia clube para ela, mas ela se contentou. O fato de não está em qualquer clube lhe deixava livre para assumir alguma função na biblioteca. Graças aos seus esforços e bom relacionamento com os professores, isso foi possível.
Ela caminhava em direção da biblioteca. O colégio não era enorme, mas o caminho para lá parecia ser longo. Afinal, poucas pessoas faziam caso de está perto de lá. No máximo encontrava um ou outro por perto, mas suas finalidades não tinham qualquer relação com aquela sala. Chegando na porta, abriu-a e sentou-se na cadeira e fez o de habitual. Ler (ou fazer atividades de casa), arrumar alguns livros e vigiar o local. No entanto, uma raridade aconteceu. Um aluno estava lá. "O que um aluno faz aqui? Ele deve está desesperado com algum trabalho" ela pensou, mas tudo que ele fez foi dar bom dia, sentar à mesa e começar a ler. Bia sabia que ela não era a única a ler, porém, mesmo assim ela se assustou. Logo após, ele começou a fazer anotações. A curiosidade a consumia, mas a o espanto e timidez lhe impediam de fazer algo.
- Hã.... Qual seu nome? - Perguntou o garoto.
- Beatriz. - Disse confusa - Por quê da pergunta?
- Seria meio estranho lhe chamar de garota - Riu de nervoso - Eu queria uma ajudinha.
- Então estava anotando coisas para atividade?
- Não é bem isso... Eu só gostaria de saber se existem algum guia de gramática e ortografia ou de literatura.
- É bem estranho isso. - Disse suspeitando de sua última afirmação - Por que tanto interesse?
- Quero me aperfeiçoar. - Coçou a cabeça - Só isso.
- Ok... Creio que fica nessa sessão, mas não garanto que haja um. - Falou enquanto apontava os dedos para tal sessão.
Voltando para seu lugar, para a leitura em seu telefone. Lembrou da realidade frustrante e o motivo da qual estava lendo no telefone. Um desejo havia sido acrescentado em sua mente: Abrir uma editora que apoiasses os autores que ela amava ou amaria. Bufou mentalmente e isso ecoou naquela biblioteca. Sentiu vergonha de si quando viu que aquele garoto escutou. No entanto, fingiu que nada fez e continuou a fazer o que fazia. Continuando a sua leitura, as vezes olhava para o garoto que fazia anotações. "Ele é inteligente ou somente esforçado?" Bia se perguntou, mas não obteve resposta alguma.
Sem nem perceber, o tempo havia se passado e era o momento de fechar aquela pequena sala repleta de livros. Se levantou e foi avisar ao garoto daquilo, mas ao chegar à mesa, viu ele corrigindo alguns trechos de texto e ela sentia que já teria lido o mesmo. Fingiu tossir e chamou a atenção do garoto. Funcionou, ele a olhou. Calmamente explicou-lhe a situação e ele o compreendeu. No entanto, ao guardar os livros na estante, ele a perguntou:
- Vi que gosta de ler. - Guardou os livros - Estava lendo o que?
- Você parecia concentrado demais para observar isso. - Respondeu Bia com semblante neutro, o que contradiz com seu estado de espanto mental. - Estava lendo um livro desconhecido. "Minha comédia romântica fálida", de Muryllo Souza, mas infelizmente tem de ser por esse telefone.
- Esse livro? Você gosta dele?
- Na verdade é uma saga e estou lendo o terceiro. - Explicou ela - Gostei de todos que li até agora e mesmo que seja assim, no telefone, amo a experiência de ler. Sua linguagem é boa e a narrativa é viciante. Se gostas de ler, eu lhe recomendo.
- Creio que não será necessário. - Pegou uma das suas anotações e lhe deu - Isso parece familiar?
Ela leu atentamente e observou algumas semelhanças com o livro que lia a pouco, mas nada que ela tivesse lido já. Era um trecho de alguma estória que assemelhava na linguagem, ambiente e situação com aquele livro que lia. Ele era um fã? Analista? Corretor de texto? Escritor de ficção?
- Até parece com livro que estava lendo.
- E realmente é.
- Isso por acaso é de algum trecho que não li? Estou no capítulo 8 do terceiro livro.
- Ninguém leu na verdade... Além de mim e você claro. - Sorriu.
- O que quer dizer com isso? - Indagou Bia.
- Deixe-me apresentar primeiro... Sou Muryllo Souza, novo aluno na escola, 2º "B".
Não é possível! Ela repetiu isso infinitas vezes até falar algo.
- Deixe de brincadeira, até parece que o Muryllo é um adolescente para escrever daquele jeito. Você certamente é algum amigo dele ou um fã que escreve bem.
- Eu sou realmente ele. – Disse com convicção – Olhe isso.
Mostrou uma imagem. Era aprovação do texto para publicar por uma editora. Nesse momento desabou, seu escritor favorito estava diante dos seus olhos.
- Gostaria de fazer um pedido. – Disse ele
- Que pedido?
- Quero que me ajude no processo de escrita e que, por favor, não contasse a ninguém sobre essa minha parte da vida.
Foi naquele momento que sua pacata vida de leitora mudaria, afinal, ela agora seria parceira do seu escritor famoso.
Aluna comum? Não, eu acho que não.
História com premissa interessante, curioso para ver seu desenrolar.
Achei interessante, estou ansioso para o próximo capítulo